Desde que entramos no novo milênio, tendo cada vez mais acesso fácil a informações de todos os tipos, temos sido bombardeados com informações contraditórias e até mesmo falsas, em alguns casos, sobre o envelhecimento e a longevidade. Notícias de pessoas vivendo muito mais tempo do que em qualquer época são confrontadas com histórias de vida em instituições de longa permanência (asilos) em que idosos são abandonados e desejam a morte. Relatos de maratonistas ou presidentes de empresas aos 85 ou 90 anos, andam lado a lado com histórias diárias de idosos solitários em comunidades fechadas para aposentados nas quais pessoas sentem-se supérfluas. Então surge a pergunta: a longevidade garantida a nós pela medicina moderna é uma bênção ou um castigo?
Obviamente, o ideal é que o fato de conseguirmos viver mais seja motivo de alegria. Mas, para isso, é necessário que consigamos entender o envelhecimento bem-sucedido, observando como vivem idosos longevos e saudáveis. Por isso o estudo de Harvard sobre Desenvolvimento Adulto é tão importante. Ao invés de focar nas doenças, esse estudo procurou encontrar os fatores que podem desenvolver a melhor saúde física e mental quando se atinge idades avançadas. Além disso, é provavelmente o estudo mais longo realizado, pois já dura mais de 80 anos.
Pesquisa por grupos
O estudo iniciou na Universidade de Harvard em 1938, através dos médicos pesquisadores Arlie Bock e Clark Heath, e teve várias fases. Primeiro, houve uma amostra de 268 estudantes universitários socialmente favorecidos, nascidos em torno de 1920, depois outra amostra de 456 homens socialmente desfavorecidos vivendo nas redondezas de Boston, nascidos em 1930 e, ainda, uma terceira amostra, de 90 mulheres de classe média, intelectualmente favorecidas, nascidas ao redor de 1910. Essas pessoas foram entrevistadas e monitoradas por meio de exames médicos e observações das experiências sociais, a cada 2 anos, durante toda as suas vidas. Suas famílias também foram monitoradas e até hoje já foram estudadas 3 gerações: avós, pais e filhos.
O que o estudo de Harvard nos diz sobre longevidade bem-sucedida?
A primeira lição é que se deve pensar em longo prazo e tomar decisões com essa perspectiva em mente. O que realmente importará em 5, 10 anos? Quando se toma decisões com base em critérios de curto prazo, não se considera as mudanças rápidas da vida. Desenvolver a capacidade de pensar em longo prazo, de ligar as escolhas diárias a um propósito e visão abrangentes, é a chave. A habilidade de buscar objetivos nobres é uma marca registrada de sucesso porque é uma maneira infalível de evitar as armadilhas da autoabsorção e do pensamento de curto prazo.
A segunda lição é a importância de se desenvolver as habilidades necessárias para lidar com os altos e baixos da vida, isto é, inteligência emocional. No estudo, essa habilidade foi denominada “adaptação” e foi evidenciada como altamente determinante de quão bem as pessoas irão envelhecer, tanto física como psicologicamente. As pessoas com maior capacidade de adaptação tendem a envelhecer de forma mais saudável e feliz.
A terceira lição se refere aos relacionamentos. O estudo descobriu que relacionamentos fortes são, de longe, o preditor mais importante de satisfação com a vida. Além disso, bons relacionamentos são melhores preditores de vidas longas e felizes do que classe social, riqueza, fama, QI ou até mesmo genes. E relacionamentos fortes não estão apenas relacionados à felicidade, mas também à saúde física, à longevidade e ao sucesso financeiro. No estudo, as pessoas que estavam mais satisfeitas nos seus relacionamentos aos 50 anos eram as mais saudáveis aos 80. Relacionamentos felizes ajudam a retardar o declínio mental e físico. Assim, os nossos relacionamentos e o quão felizes somos neles têm uma influência poderosa na nossa saúde, contribuindo para a longevidade.